Campanha começa no dia 16, com o Dia Nacional de Lutas. Atos serão realizados em todo o país exigindo que o Banco Central baixe a taxa Selic, hoje em 13,75% - a mais alta do mundo
A CUT e centrais sindicais iniciam nesta semana uma ofensiva contra a política de juros praticada pelo Banco Central do Brasil (BC), comandado pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, que vem mantendo a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, o maior patamar do mundo, e que traz consequências severas para a retomada do crescimento e do desenvolvimento econômico brasileiro. (veja abaixo)A Campanha Nacional pela Redução dos Juros começa na próxima sexta-feira, dia 16, com o Dia Nacional de Lutas contra as altas de juros e o lançamento da Jornada. A CUT nos estados, junto com seus sindicatos farão ações em locais de trabalho e espaços públicos de grande circulação de pessoas.Os atos têm o objetivo de dialogar com a população alertando sobre os prejuízos provocados à sociedade brasileira com a manutenção da taxa em tal patamar e, assim, reforçar o protesto contra a política do BC. Serão feitas assembleias com trabalhadores, tuitaços, panfletagens, atos de rua, colagem de cartazes, plenárias, entre outras ações.O lançamento da campanha, no dia 16, será marcado por uma manifestação em São Bernardo do Campo, organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC). A partir das 8h haverá uma caminhada pelas ruas da cidade para manifestar o descontentamento e exigir a redução dos juros.Já no dia 19, será feito um tuitaço nacional para denunciar a política do BC, com engajamento das entidades sindicais filiadas à CUT, além de uma intensa mobilização pelas Brigadas Digitais da CUT, Comitês de Luta e organizações populares para ocupar as redes sociais.Outros atos estão sendo organizados em vários locais do país também para o dia 20, data em que começa a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que definirá, no dia 21 qual será a taxa praticada. O BC mantém a taxa em 13,75% de agosto do ano passado e, de acordo com o último boletim Focus, publicado no início da semana passada, a estimativa é de que o BC mantenha a taxa neste patamar abusivo.Nestes dias (20 e 21), serão realizados atos em cidades onde há sedes do Banco Central e atos de rua em lugares de grande circulação de pessoas nas cidades onde não houver sede do BC. Em são Paulo, o ato será às 10h, na Avenida Paulista, n° 1.804 (prédio do BC)
Previsão
O Relatório Focus, divulgado todas as segundas-feiras pelo Banco Central (BC), indicou na publicação da semana passada que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% nas próximas duas reuniões previstas para este mês (20 e 21) em agosto.Em encontro com empresários, nesta segunda-feira (12), Campos Neto afirmou que possiblidade de queda dos juros é ‘lá na frente’, condicionando mais uma vez o comportamento da economia à redução e ignorando as quedas da inflação percebidas nos últimos meses. O IPCA, que mede a inflação oficial do mês de maio, ficou em 0,23%. Com o resultado o índice soma 3,94 % em 12 meses, o menor em três anos.Tanto a classe trabalhadora, como o governo e o setor empresarial têm cobrado a redução dos juros para que o país volte a crescer com geração de emprego e renda. No mesmo evento que teve a participação do presidente do BC, a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, fez uma forte crítica a essa política.“A nossa realidade é diferente. O varejo puxa tudo, a indústria, a construção. Estamos tendo excesso de produto, as indústrias não têm onde colocar, nem sempre esse remédio amargo também resolveu a inflação (...) se estou defendendo, é pela pequena e média empresa. Queria pedir, por favor, para dar um sinal de baixar esses juros”, disse a empresária.A empresária foi além e escancarou a realidade de muitas dessas pequenas e médias empresas, responsáveis por grande parte de geração de empregos no país. . “Sem um sinal, não vamos aguentar. Quantas lojas aqui já foram fechadas? Quantas pessoas já foram mandadas embora? A desigualdade social é muito grande. É o emprego que salva as pessoas. Queria te pedir, em nome dos brasileiros, para dar um sinal. E não é de 0,25 ponto, que é muito pouco. Precisamos de mais”, alertou Luiza Trajano.Leia mais: Juros altos do Banco Central dificultam crédito para a maioria das empresas, diz CNI
Mesmo com todas as críticas que o BC vem recebendo desses setores, o Comitê de Política Monetária (Copom), alega que “permanecem cenários de risco para a inflação”. Mas, a para a CUT, ao contrário de ‘risco’, o que ocorre é um boicote do Banco Central às iniciativas governamentais para criar condições para o consumo voltar a crescer e as empresas terem créditos mais baratos para produzirem mais, empregarem mais e fazerem a roda da economia girar. “A manutenção das mais altas taxas de juros do planeta Terra se constitui em um ato irresponsável e de claro boicote ao esforço governamental e empresarial, mas principalmente às lutas e reivindicações das organizações sindicais. Irresponsabilidade que explicita o erro de conferir autonomia a um Banco Central, cujo presidente é fiel ao governo anterior, que aposta no fracasso do atual governo, e inimigo do povo brasileiro”, diz trecho de nota publicada pela Central após a última reunião do Copom, no dia 3 de maio, que manteve a taxa no patamar elevado.A próxima reunião do colegiado será realizada em 20 e 21 de junho. A CUT e centrais sindicais, para reforçar a pressão sobre o BC, estarão mobilizadas dialogando com a sociedade sobre os prejuízos provocados pela manutenção da Selic em patamar elevado.Mas o que eu, trabalhador, tenho a ver com isso?A taxa de juros é usada no mundo todo para combater a inflação. Mas esse mecanismo só funciona quando a inflação é causada por demanda, ou seja, porque a população está comprando mais do que é produzido e este não é o caso do Brasil, já que o consumo vem caindo porque o povo não tem dinheiro pra gastar e o endividamento das famílias batendo recorde.É a partir da Selic que os bancos praticam seus próprios índices sobre empréstimos oferecidos a empresas e pessoas físicas, o cartão de crédito rotativo, as prestações da casa própria e de outros financiamentos. Como o crédito está muito caro as empresas também ficam sem condições de contrair empréstimos para expandir seus negócios e gerar empregos. Como o Banco Central se tornou independente do governo federal, numa decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com aprovação do Congresso Nacional em 2021, o atual governo não tem ingerência sobre as decisões do BC, apesar das críticas de Lula ao alto índice da taxa de juros. Uma pesquisa da Genial/ Quest apontou que 76% dos entrevistados dizem que o atual presidente acerta em combater os juros altos no Brasil.Além de já pagarem caro aos bancos, a população perde ainda bilhões de reais anualmente em investimentos sociais porque o governo federal também paga pelos juros altos devidos aos empréstimos que possui com a venda de títulos públicos. Isso acontece porque cerca de 40% da dívida pública é indexada à taxa Selic.Para se ter uma ideia de investimos sociais que poderiam ser feitos, a redução de apenas 0,5% da taxa de juros faria o governo ter à disposição mais R$ 17 bilhões, o que equivale a um ano de Minha Casa Minha Vida e Farmácia Popular.Segundo artigo da economista Mônica de Bolle, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, ao subir a taxa de juros de 2%, no início de 2021, para 13,75%, em agosto de 2022, o Banco Central fez com que a despesa do governo com a dívida pública saltasse de 2% do PIB para 10% do PIB, ou de R$ 135 bilhões para R$ 920 bilhões por ano. A maior parte deste dinheiro (53,6%) vão para instituições financeiras e fundos de investimentos.De maneira geral os juros altos travam a economia pois sem investimentos, a produção cai e o desemprego sobe.- Capa: Contraf-CUT