De 177 assassinatos de defensores do meio ambiente no ano passado, 34 ocorreram no Brasil, aponta Global Witness
Pelo menos 177 ativistas ambientais foram assassinados em 2022 em todo o globo. É como se, a cada dois dias, uma pessoa ligada à defesa do meio ambiente e do uso coletivo dos recursos naturais tivesse sido morta por causa da sua atuação. O levantamento é da Global Witness, ONG fundada no Reino Unido que monitora o cenário de ativismo ambiental desde 2012. Segundo seu mais recente relatório, publicado nesta terça-feira (12/09), 1.910 crimes do tipo foram registrados no mundo na última década.
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Em 2022, a Colômbia liderou o ranking como país mais violento para ativistas. Foram 60 assassinatos, o dobro do contabilizado no ano anterior. A maior parte das vítimas é formada por indígenas, membros de comunidades afrodescendentes e pequenos agricultores, aponta o relatório.:: Barroso vota contra marco temporal e STF tem 4 votos a 2 contra tese ruralista ::
No México, que ocupou a primeira colocação do ranking em 2021, o total de mortes caiu de 54 para 31. Mas isso não significa que a violência tenha dado trégua naquele país, destaca a Global Witness."A situação geral permaneceu terrível para as defensoras e defensores da terra e do meio ambiente, e os ataques não letais - incluindo intimidação, ameaças, deslocamento forçado, assédio e criminalização – seguem prejudicando seriamente o trabalho dessas pessoas”, diz o documento. O quadro grave na América Latina foi destaque: a região foi palco de 88% do total de assassinatos. Dos 18 países que aparecem no relatório com casos documentados, 11 são latino-americanos.:: "Povos indígenas não se declaravam como tal por estratégia de sobrevivência", diz antropóloga ::
Impunidade
Segundo o levantamento, em 2022 a Colômbia ultrapassou o Brasil no número de ativistas mortos na última década, com 382 casos ante os 376 registros de brasileiros. Até então, a liderança era do Brasil, historicamente o país onde mais ativistas foram assassinados desde 2012."O Brasil é um dos países que mais mata essas pessoas, defensores da floresta e do meio ambiente. É um país com números absurdos de mortes", ressalta Bianchini.:: Se estivessem vivos, Berta e Darcy Ribeiro estariam indignados com citação de André Mendonça ::
Em Boa Vista (RR), os autores dos disparos que mataram Ana Yanomami Xexana seguem desconhecidos. A indígena estava num acampamento provisório na cidade quando foi atingida na cabeça por dois homens que passaram no local de bicicleta. Ela deixou um bebê.:: Estudo inédito expõe ligação entre senador bolsonarista e genocídio Yanomami ::
Proteção ambiental e interesses econômicos
Para os autores do relatório, é complexo estabelecer ligações claras entre os assassinatos registrados e setores econômicos específicos. Dos 177 crimes de 2022, pelo menos dez têm suas causas ligadas a interesses da indústria do agronegócio – metade desses ocorreram no México.:: Em CPI, indígena bolsonarista nega financiamento, mas é confrontado com vídeo de fazendeiro ::
Amazônia no centro
É a primeira vez que o relatório destaca mortes registradas na região da Floresta Amazônica: 1 em cada 5 assassinatos contabilizados em 2022 aconteceu no bioma."O Brasil vai sediar a Conferência do Clima em Belém em 2025. Sabemos de todos os problemas do estado do Pará e da região amazônica no Brasil. Há necessidade de pressionar o novo governo", pontua Bianchini.Fonte: Nádia Pontes, DW | Brasil de Fato