Marina Silva e Sonia Guajajara criticam mudanças feitas no texto, que ainda passará por plenários da Câmara e Senado
A Comissão Mista criada no Congresso para discutir a Medida Provisória (MP) que criou a estrutura de ministérios do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aprovou nesta quarta-feira (24) um parecer favorável a uma proposta que tira força das pastas do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, entre outras.Na prática, os parlamentares que conduziram a elaboração do texto sugerem alterações relevantes na estrutura de diversos ministérios. A proposta aprovada pela Comissão Mista terá de passar ainda pelos plenários da Câmara e do Senado.Caso a discussão e aprovação do texto não aconteçam nas duas Casas até a próxima semana, a Medida Provisória (MP) que criou toda a estrutura ministerial do governo perde a validade, já que MPs precisam ser aprovadas pelo Congresso em até 120 dias.O texto aprovado tem alterações relevantes em relação ao que foi proposto pelo governo. Sob o comando do deputado federal Isnaldo Bulhões (MDB-AL), a comissão tirou do Ministério dos Povos Indígenas a responsabilidade sobre reconhecimento e demarcação de terras indígenas. A atribuição passa para o Ministério da Justiça.:: Demarcação de terras índigenas é a política do governo Lula mais aprovada entre os brasileiros ::
A decisão foi criticada pela ministra Sonia Guajajara, em nota oficial publicada no site da pasta dos Povos Indígenas. O texto afirma que as mudanças vão contra as propostas do Governo de tratar os povos indígenas "com a devida importância e relevância que merecem, respeitando a Constituição Federal de 1988"."Acatar as emendas propostas e excluir das atribuições do Ministério dos Povos Indígenas a demarcação de terras é ir na contramão do mundo nos objetivos globais de enfrentamento à crise do clima, abrindo espaço para a devastação ambiental que tanto ameaça nossos biomas", prossegue o texto. Em outro ponto do parecer aprovado pela comissão do Congresso, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) deixa de ser responsável pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR), documento público obrigatório para todo tipo de propriedade rural. A atribuição passa para o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. O CAR é usado para mapeamento de grilagem de terras e controle de áreas desmatadas.:: Código Florestal Brasileiro completa dez anos e ainda não tem garantias de cumprimento ::
O MMA também deixa de ter o controle de diferentes sistemas de informação, que passam para o Ministério das Cidades. São eles o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa), o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh).Outra atribuição que deixa de ser do Ministério do Ambiente é a gestão da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que, segundo a proposta, passará a ficar sob controle da pasta de Integração e Desenvolvimento Regional.:: Agência Nacional de Águas: desvirtuamento, reconstrução e novos riscos ::
"Estão depenando o Ministério do Meio Ambiente. O povo brasileiro elegeu o presidente Lula, mas parece que o Congresso quer reeditar o governo Bolsonaro. Tirar as competências do Ministério do Meio Ambiente vai minar a credibilidade do país no exterior. Isso será um tiro no pé do agronegócio brasileiro", disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao jornal O Globo, antes mesmo da aprovação do texto.Outra alteração de destaque no texto aprovado pela Comissão Mista está a autorização para extinção da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Nesse caso, os Ministérios das Cidades, da Gestão e da Saúde ficariam responsáveis pelas atribuições antes dadas à Federação.- Capa: Comissão tirou da pasta de Sonia Guajajara a responsabilidade sobre reconhecimento e demarcação de terras indígenas/Foto: Marcello Casal, Agência Brasil
- Edição: Thalita Pires