Dados comprovam que políticas afirmativas não estão sendo levadas a sério dentro dos partidos
Muitas contas não fecham no sistema político brasileiro. Mas, a disparidade representativa entre o percentual de homens brancos e negros, mulheres, LGBTQIAP+ e indígenas que ocupam o parlamento talvez seja uma das mais importantes a serem questionadas. Pelo simples fato de que essa diferença interfere diretamente na aprovação ou não de emendas que tem o efeito de atrasar o desenvolvimento social do país.Foi isso que demonstrou a PEC 9/23 ou PEC da Anistia, aprovada no último dia 16 de maio na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com 41 votos favoráveis e quatro contra. A Proposta quer impedir punições aos partidos que não fizeram o repasse de 30% do fundo eleitoral às mulheres e pessoas negras na última eleição e àqueles que estão com as contas irregulares na Justiça Eleitoral, além de reabrir o financiamento empresarial.
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E para piorar, agora com a revisão, parlamentares estão reconsiderando apenas voltar atrás sobre a liberação de cotas de gênero e perdão de gastos ilegais de campanha, mas manter o perdão às legendas que não cumpriram as cotas raciais. Se isso seguir adiante, será o maior perdão da história do país.
Organizações da sociedade civil estão assinando um posicionamento público para frear a votação da proposta | Foto: Antônio Cruz, Agência Brasília
Inadmissível
O movimento Mulheres Negras Decidem considera inadmissível que no atual contexto brasileiro uma ação legal ajuizada por parlamentares ameace ainda mais a participação de negros e negras nos espaços de poder e decisão na política institucional e inviabilize um projeto mais amplo de construção coletiva de poder sobre bases antirracistas, como a própria Constituição Eleitoral.Implementada em 1995, a “Lei das cotas” vem desde 2015 sofrendo com inúmeras investidas de parlamentares que querem encobrir infrações cometidas pelos partidos políticos, sobretudo no período eleitoral.Eleições 2022: O ano de virar a página e eleger mais mulheres, negros, indígenas e LGBTQIA+
Na última eleição, por exemplo, dados do Monitor das Desigualdades Raciais elaborado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Gemaa-Iesp), mostraram o subfinanciamento das campanhas de mulheres negras e indígenas.Na análise total, homens brancos e amarelos receberam cerca de 4,5 vezes mais recursos que mulheres pretas, pardas e indígenas. Ou seja, as políticas afirmativas não estão sendo levadas a sério dentro dos partidos.Continua após o banner
- Capa: Antônio Cruz, Agência Brasília
Mulheres Negras Decidem | Organização que qualifica e promove a agenda liderada por mulheres negras na política institucional, fortalecendo a democracia brasileira.