Após relatório da Oxfam, que escancara extrema desigualdade no planeta, 200 bilionários globais pedem tributos contra a desigualdade e endossam papel do Estado sobre a economia. Estão em treze países. Adivinhe um que faltou…
Um grupo de cerca de 200 milionários e bilionários de 13 países publicou, nesta quarta 18, uma carta aberta em que pedem que os governos aumentem os impostos sobre eles. A informação foi antecipada pelo jornalista Jamil Chade, do UOL.
O documento, intitulado “O Custo da Extrema Riqueza”, é direcionado aos “líderes políticos em Davos” e aborda a relação entre desigualdade de renda e a crise do regime democrático.
Entre os nomes que assinam a carta estão o ator Mark Ruffalo, Tim e Abigail Disney (herdeiros da companhia de entretenimento Walt Disney), e Robert Berkeley (Infinox Capital). O grupo é composto por milionários e bilionários de 13 países, entre eles Estados Unidos e Reino Unido, e se intitula “Patriotas Milionários”. Não há brasileiros na lista. O documento é ilustrado com as imagens de Lula e Joe Biden, além do empresário Elon Musk e do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak.
No documento, os assinantes afirmam que a realização de uma reunião da elite global em Davos para discutir “Cooperação em um mundo fragmentado” é inútil, caso não seja desafiada a raiz da divisão.
“Vivemos em uma era de extremos. O aumento da pobreza e o aumento da desigualdade de riqueza; o aumento do nacionalismo antidemocrático; o clima extremo e o declínio ecológico; as profundas vulnerabilidades em nossos sistemas sociais compartilhados; e a oportunidade cada vez menor para bilhões de pessoas comuns de ganharem um salário que lhes permita viver”, diz o documento.
A carta destaca, ainda, que “a história das últimas cinco décadas é uma história de riqueza que não flui a não ser para cima. Nos últimos anos, esta tendência tem se acelerado muito”.
A referência feita ao período que se inicia nos anos 1970 abarca a expansão do neoliberalismo. Seus principais entusiastas políticos são o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan e a ex-primeira ministra britânica Margaret Tatcher, responsáveis pela promoção de reformas econômicas voltadas à austeridade fiscal e à flexibilização das relações trabalhistas, bem como pela diminuição do papel do Estado na promoção da igualdade social. Entre os economistas, um dos principais teóricos da doutrina foi Milton Friedman, ligado à Escola de Chicago de Economia.
A carta “O Custo da Extrema Riqueza” é publicada na mesma semana em que a Oxfam divulgou um relatório revelando que quase dois terços da riqueza produzida no mundo, desde o início da pandemia, foram acumulados por 1% da população mundial. O estudo da Oxfam sugere uma taxação de 5% sobre as fortunas dos bilionários, como forma de retirar 2 bilhões de pessoas da pobreza.
A carta aberta de hoje não é a primeira iniciativa de um grupo de “super-ricos” pedindo que os governos aumentem a taxação sobre suas fortunas. Em 2020, um grupo de 92 milionários também publicou um documento no mesmo teor de “O Custo da Extrema Riqueza”.
No mesmo ano, bilionários norte-americanos cobraram diretamente dos candidatos à presidência dos Estados Unidos em 2020 a taxação sobre suas fortunas. Entre os líderes daquela iniciativa, estava George Soros, investidor hungaro conhecido por movimentos de especulação no mercado financeiro. Em 1992, por exemplo, Soros investiu contra a sustentabilidade da libra esterlina (a moeda oficial do Reino Unido) e obteve fama ao ganhar, em um só dia, mais de 1 bilhão de dólares, além de ter contribuído que o Banco da Inglaterra ficasse próximo da falência.
Já no final dos anos 1990, Soros alertava para o risco que a concentração exponencial de riqueza possibilitada pelas políticas neoliberais, além da ausência de regulação de diversas atividades financeiras, poderiam causar nos sistemas democráticos.